quinta-feira, 5 de novembro de 2009

EU, ROBÔ



Chips, materiais e técnicas inovadoras já permitem a construção de membros artificiais controlados pelo cérebro


"Cavalheiros, nós podemos reconstruí-lo. Nós temos a tecnologia. Nós somos capazes de construir o primeiro homem biônico do mundo. Steven Austin será este homem. Melhor do que já foi. Melhor, mais rápido." Quem não desgrudava da TV no começo da década de 80 certamente tem na memória essas frases. Elas eram repetidas todas as semanas na abertura de O Homem de seis Milhões de Dólares, uma das séries de maior sucesso da televisão mundial. Produzidos pela rede americana ABC, os episódios narravam as aventuras de Steven Austin (Lee Majors), astronauta da Nasa que após um acidente teve parte do seu corpo reconstruído com próteses artificiais para lá de high tech. Com pernas capazes de correr a quase 100 quilômetros por hora, braços tão resistentes quanto um olho equipado com visão de infravermelho e zoom de até 20 vezes, Austin, o primeiro homem biônico, era praticamente invencível.
Desde que a série foi exibida, há mais de trinta anos, as pesquisas com membros artificiais deram um salto gigantesco. E, apesar de não alcaçarem o mesmo nível tecnologico da ficção, já garantem a entrada da humanidade em uma era de perfeita integração entre entre homem e máquina. O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis é um dos protagonistas da saga por esse novo Santo Graal da ciência moderna. No início do ano passado, ele e sua equipe da Universidade de Duke, na Carolina do Norte ( EUA), deram um passo importante para criação de próteses controladas diretamente pelo cérebro humano: conseguiram fazer com que um macaco fêmea rhesus comandasse um robô do outro lado do mundo apenas por pensamento.
Para isso, o grupo implantou eletrodos no cérebro de Idoya, como a marca é chamada, para monitorar a atividade de 300 dos milhões de neurônios responsáveis pelo sistema motor.

Enquato ela caminhava por uma esteira, os chips presentes nos eletrodos captavam os sinais do cérebro, que eram convertidos em comandos digitais e enviados pela internet de altíssima velocidade para um laboratório em Kyoto, no Japão. Lá, o robô CBI recebeu as instruções e começou a andar. Mesmo após parar de caminhar sobre a esteira, Idoia continuou a comandar o robô por mais três minutos.
A neuroprotese, como o sistema foi batizado, ainda não foi aplicada em seres humanos. Contudo, no hospital Sírio-Libanês (HSL), tecnologia semelhante será usada para aliviar os sintomas motores do mal de Parkinson.A ideia, segundo Koichi Samesshima, diretor do Laboratório de Neurociências do HSL, é capacitar a equipe do hospital para a segunda fase de pesquisas que abrangerá testes clínicos semelhantes aos feitos com Idoya em humanos. "Nos pacientes com Parkinson, vamos implantar eletrodos nos gânglios de base, que são estruturas cerebrais relacionadas com o controle motor, com o objetivo de estimular a função motora dessas pessoas", diz. O passo seguinte com pacientes amputados é mais complicado. "Teremos que criar uma série de treinamentos terapêuticos para que eles voltem a utilizar a área cortical motora do cérebro para essas funções."    

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